Estrela da Manhã

Ela mal saiu daqui e eu tô no bloco de notas.
Quem diria?! Bandida.

Ela já veio aqui ontem à tarde
Pra, sei lá, me dar uns beijos
talvez, só um salve.

– Tô pelo corre, talvez passo aqui mais tarde. – disse.

E foi, assim, andando e rindo
mandou beijo, real,
mas estranhamente, sem tchau.

Talvez tenha sido só
um lembrete que aquela boquinha
gostosa pra car*lho, digo de passagem,
que encaixa certinho na minha,
existe. Muita sacanagem!

Estranhamente não subiu, ficamos na garagem.
Não aceitou café, mas quis chamêgo.
Fez dengo dentro do Palio empoeirado.
Sem drama, sem frescura, máscara ou traje.
Despida de dúvidas, que tava no lugar certo.
E quase literalmente, não fosse o fácil acesso visual, da rua pra onde estávamos.

O problema não é o atentado ao pudor, até porque isso não rolou; o real problema, na minha cabecinha problemática, é o poder que eu dou pra essa mina me deixar assim, e sem querer.

Parece que flui os assuntos, saindo do raso,
tal qual, quando estamos levemente alterados.
Não importa, em nenhum sentido, o estado,
a sintonia simplesmente se faz presente. No papo.

Meia-noite e uns quebrados…
Três batidas na porta de lata da frente
e eu tirando os fones, assustado.
A essa hora?! Tô ouvindo coisa. – pensei.

– Amô, sou eu. Abre aqui, tô com frio.

Então, fui abrir o portão. Lógico.
Chamei pra subir de novo… não quis.
Mas pediu uma blusa minha emprestada.
Já dei sabendo que talvez não volte.
Fui menino, confesso meu erro.
Emprestei logo a toda perfumada,
que tinha usado pra sair mais cedo.

Diz que tava com as amigas, numa praça.
Que ficou chato de repente, ela ficou incomodada,
tudo porque que uma tal de Shei-lá-quem, convidou,
pro rolê que era, só delas, uma pá de playboyzada.
Não que eu tenha perguntado nada!

Eu acho fofo, mas realmente não entendo esse lance de dar satisfação pra ficante. Por que, é isso que somos né?! No máximo, amantes…

Mas não deu muito tempo de pensar nisso, pelo menos, não na hora.
Foi línguada pra todo lado…
Ai CALICA! Ai…
Rendeu essa madrugada, o corre foi bom, esquentei Morena bonita, fumaçamos, ao som, da única música que conheço do Mc Yago.
Eu com um fino e ela com que sobrou de troco no bolso.
Nós japonesinho… e vapo. Até as quatro.

– Que Amô?! Já são quatro? Aí lascou, o tempo voou e amanhã (hoje) eu trabalho.

Ainda assim, fez questão de se despedir.
Afagos demorados, marcados pelo cheiro, além do obvio, claro, o marcante, venenoso e agradável, do maldito pendrive de maçã-verde.

– Mô(rena), essa parada ainda te mata. Sério, para.

Ela só ri. Carinha de feliz misturada com sono.
A vontade era dar um sacode
e levar ela pra dormir de conchinha comigo,
mas, a real, não é nem que não pode…

!! Alerta de Perigo !!

Ela tá tão radiante e mole ao mesmo tempo que parece mentira, não consigo compreender esse estado de entusiasmo “sem combustível”.
Isso pra mim era impossível.

Diz que vai dormir duas horas e tá Nova De Novo‘.
Me explana os planos, os controles de dano…
E eu disperso, confesso.
…falou, falou e detalhou meia correria…

– Amô! Bom dia! – e me beijou de novo…
…mas não antes de tomar o molho de chaves da minha mão. Sem pestanejar, destrancou o portão.
Virou pra mim de novo, me convidou pra passar mais tarde, na dela, pra bater papo, um chá e comer bolo.
Juro, ainda não entendi o nosso rolo.

E assim, se foi novamente…
…novamente, sem tchau.
Vá entender.

Estrela da Manhã, Vênus da quebrada,
Morena doida, desvairada,
que preferiu ficar comigo e ir trabalhar virada,
depois de, segundo ela, deixar as amigas na praça.
O que eu não duvido, porém…
ela chegou toda arrumadinha
e deveras, cheirosa demais
pra quem acabou de deixar a revoada.

Às 05:36 da manhã, e eu contente,
vendo o dia nascer feliz.
O mundo inteiro acordando, e a gente?!
Indo dormir… literalmente.


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