Cinza Cimento

Descendo e ascendendo.
Pensando no melhor, meu pior veneno.

Era tudo que eu tinha, aquele “pouco que eu te dei”
Você só fez me julgar
Mas um pouco te ensinei (que eu sei)

Só tenho essas rimas
Eu não sou uma desculpa
Por que não sou mais o seu rei
Por não SER mais do que eu sei
Por não TER mais do mesmo, do que eu mesmo garimpei
Afinal, era tudo que tinha, e eu já disse que te dei.
– TUDO!

Mãos sangrando no asfalto novo da favela
Todo mundo já sabia o que rolava na viela…
O escadão, a contramão!
Os meus irmãos.
O tato trágico tático, descendo armado,
vermelho reluzente no reboco dessa casa velha

Paredes pintadas, agora com sangue
onde antes tinham flores amarelas… à tinta, lindas!
São apenas seqüelas das verdadeiras mazelas
Conspiradas pelas mesmas magoas cinzas
Que me tiraram da razão e me levaram d’ela….

Aaaahhhhhhh
Essa vontade de gritar, de chorar, sei lá
(Es)Tão olhando pro Vilão que não pode errar.
HA! HA! HA! HA! HA! HA!

Tá encarando demais.
Tá olhando que? Carai,
– vai me dar roupa?
Ou talvez só esteja afim de me comprar. Sei lá!
…quer perder alguma coisa? Porra!

Preciso fugir daqui… preciso sair
Não tem pra onde correr – Mas e daí?
A vida não é um jardim.
Nem tudo são flores. Tudo é cênico ou cínico…

Os corres, as cores, os crias
as donas Dolores e suas dores – paridas
por todas as vias, de fato, sem fino trato
Ambos de partida, na selva de pedra cinza,
sem amores, chuvosa e fria.
Só o gosto amargo enlatado,
engasgado do ultimo trago
Parece o filtro do cigarro acabado.

O mundo, de repente, ficou maior depois que eu cresci
A tendência era contrária, mas fiquei e vi… (Sobrevivi)
Tudo ficar mais alto do que eu, mais caro que euro
Mais alto que as nuvens de chuva daqui
os prédios, hediondos, viraram pesadelos
Olhando assim, até parece que encolhi
Passo apressado, pensando em mim mesmo
No que eu sofri, o que senti,
no que sorri, o que eu menti?
E não tem erro.

Não sou menor que ontem, nem maior que o amanhã
Ainda sou o esmo,
sim eu, esse mesmo,
um paranoico sistemático,
evitando de ser morto ou preso!

Foda-se seu namastê! – seu tilelê…
Seu dinheiro, suas roupas caras… Foda-se você!
Ainda não consigo evitar o sentimento de ranço
Não entendo o que esses putos peros tão ‘latin’do
Essa playboyzada escrota, chata me olhando
por cima dos ombros, apontando e rindo

Acho que eles’tão me tirando… e é só isso!

O canhão, meu mano, ainda tá na cinta,
por alto, chutando baixo, em anos
há mais de trinta.
Mas o dedo que vai no gatilho,
Juro tá coçando tanto,
que chega irrita.

Deram tiro na porta da casa que era da dona Maria
O vidro estilhaçado do balaço é tipo eu,
que me sinto fora de sintonia.

Cena triste e distópica, mas quem diria
Acho que descobri que eu não sei amar….
É só veneno!

“Nóis só morre de gripe nova, quando a burguesia espirra”
ou vai dizer que o vírus veio voando no ar, sozinho lá da China?

Tem gente passando mal, tá difícil de olhar
de engolir, de respirar, de existir, de processar
Essa contra-magia plástica socada na jugular
Que só fez esparramar horas de indagação…
Imagina se fosse eu lá?! do outro lado.
Me retiro da cena de tiro, com uma oração
Lágrimas à debandar… Em clave de Dó,
procurando Escala de Sol maior e mar.
Na busca incansável pelo quê se apegar, pra que amar?!
a quem vale a pena a porra do destaque,
por isso muito mano se afundou no crack.

Criticas? Desce o verbo...

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