… – Vai querer o que senhor? …
A cara do pobre coitado, que ganha mais numa noite,
de caixinha,
o que eu ralo uma semana inteira pra levantar, não nega.
Ele tá exausto. Eu descontraio… E peço pra ele sentar ao lado…
– “Vai demorar um pouco parceiro!”
É realmente outra pessoa, sentada ali do meu lado.
Uma BELA desconhecida.
Claro que, pelas pontas molhadas do cabelo,
a gente até desconfia…
– “E então, vai me pagar aquela bebida, agora?”
– “Vai querer tomar o que?” – ainda atordoado, confesso!
– “Quero Gyn. Qualquer drink serve.” – toda empolgada.
Os olhos, antes desanimados, do nosso garçom,
agora brilhavam, tanto que ele até levantou.
– “Gyn só temos o combo, senhor.” – já se adiantando.
– “Traz um pra essa danada. Papo dado, tem que ser reto.” – Me fudi, né?
Nem sei quanto vai sair essa brincadeira, mas pelo sorriso estampado,
naqueles lábios, agora lavados, e ainda assim, corados…
Se não valeu a pena ainda, ao menos, tenho tempo pra fazer valer. – He, he! He!!
– “Eu não tomo esse negócio. É seu, se quiser jogar na banca, ou não, é com vc.”
Nem bebendo eu tô… até agora pouco, tava morrendo de dor.
Não vou arriscar misturar, o que estou tomando, nem com refri.
– “O pai tá só na água. Relaxa.” – sorrio, meio besta, meio frio.
Ela? Feliz, pelo visto, dançando, sorrindo e
enchendo os copos das amigas.
Sei que nesse momento eu abstraí… voei. – e as horas comigo.
Justo quando resolvi e me movi pra sair.
Com aquela levantada estratégica, de quem vai ao banheiro, mas,
na verdade anuncia a partida. – Então! Essa.
Sinto um puxão pelo braço, e uma voz sensual que me diz:
– “Me dá um cigarro?” – ela arfa o ar e – “Você não vai embora, né?”
Toda manhosa. – da brisa do Gyn, talvez.
– “Daqui, vamos pra outro lugar. Quero você com a gente…” – pausa de quem falou demais – “… vai ser mó resenha. Você tem que vir.” – falou mais baixo e olhando pro chão… aí tem.
Conta paga!
Pausa pra fumar na porta do bar.
Os ‘curía’ tudo olhando estranho, como sempre.
Dividimos o bonde em dois carros e uma moto com um casal de amigos.
Anchieta abaixo, eu acho. – “Mó meio-de-mato…” – soltei sem querer.
– “Meus órgãos, não tão valendo nada, já vou logo avisando.”
– “Nossa! Nenhum deles?” – ouço do lado oposto do carro.
A safadeza da pergunta, estampada no olhar e na cara lavada.
Até a colega, no banco da frente, soltou um: – “Nossa, amiga! Hi hi hi”
Bota a culpa no álcool. Sem problemas. Mas ainda assim eu gostei.
Entre um solavanco e outro,
o cheiro de mato à noite e
o cheiro de mato queimado,
exalando, dentro do carro.
– “Chegamos!”
O barulho do vento fraco, balançando a grama,
chega a ser terapêutico. – “Gostei daqui. Mó paz!”
– “Tem piscina, com umas luzes coloridas, mó chave.” – destaca…
a colega que arrumou a chácara pra alugar.
– “Eu já vim aqui. Gravaram algum clipe nesse lugar. Eu trabalho pro dono ‘daqui’. “
E disparou a falar… se afobou, o lugar deve ser legal mesmo. – “Boto fé!”
Musica na caixinha da preferida dos malocas presentes, claro,
volume travado no máximo. Era pra isso o meio-de-mato. – entendi.
As colegas, à vontade, dançando até o chão.
Os manos, soltinhos, babando nos rabetão,
que hora desce, hora sobe… treme – treme… e baile que segue.
Não sei quem de vocês, já teve a Grande Oportunidade de passar uma madrugada no Riacho, mas, quem já foi, sabe do que vou falar.
Um frio do C@r4Lh@, o vento gelado cortando. No papo.
O povo do goró, de biquíni, na ‘piscina com luzinha,’
tirando onda e foto pra por nos storys, de alguma rede social.
Eu? Lá fora, sentado, fumando um cigarro e apreciando a vista. – na piscina, claro.
Não tô vendo a bandida. Vish… Será que já capotou? Sobrei de novo. – penso.
Quando me dou conta, estou dando um cigarro pra alguém…
Entenda:
A varanda mal iluminada, do lado de fora, tem uns banquinhos de fibra com almofadas.
Quase vibe de casa de vó, mas com móveis mais novos que eu.
A tal piscina, é coberta e fica quase na sala. O lugar é muito bonito, realmente.
Mas aqui… onde eu estou, é simples.
Cobertura de telha vermelha, chão de madeira.
No limite, entre o frio descontrolado e o confortável.
Claro, além de não ter luz, eu tô chapado!
Forço o foco, olho pro lado e… – “Hã?!” – indago alto.
– “Que foi? Já esqueceu de mim? Moço, como você é difícil…”
Continua…