Sabe aquele pensamento:
“Não sei se era bem aqui
que eu deveria estar…” ???
Pois é. Agora tenho certeza,
de que não estou no meu lugar.
WHAT THE FUCK?
Nunca vi tanta coisa cara,
junto e fora de um museu.
Meu queixo caiu, confesso;
Qual o problema desse povo?!
Quem tem um piano na sala de jantar?
“Aliás… sala de jantar?”
Quem botou isso no meu linguajar?
Ela só me chamou aqui pra não vir só;
ela só queria se trocar; e olha eu embasbacado.
Só o lustre desse lugar, pagava um carro importado;
talvez um apartamento, ali no bairro do lado.
Caralho! Olha esse vaso dourado!
No espelho do saguão eu me vejo,
com o pisante, preto de sempre… rasgado.
É muita diferença, ela toda princesa…
Eu, vagabundo nato.
“Se liga cuzão! Tá na Disney?”
Voltei no susto, procurando um culpado;
um barulho estrondoso, como um estalo,
me fez respirar de novo.
Parece que eu quebrei, mais uma vez.
Em mais de um sentido.
Trágico.
Eu já estou acostumado. Confesso, não deveria.
Olha a ousadia dessa criatura. Reaparecendo semi-nua:
— Shortinho, ou acha que ta frio demais?!
Mostrando uma combinação pré-programada de roupas, ela prossegue:
— Acho que essa leggin’ vai ficar muito apertada, mas é quentinha.
E quem diabos liga?! Ela é gostosa assim, de graça!
Acho que ela percebeu minha cara de ‘Foda-Se!’ indiferença.
Não foi por mal, só não deu pra conter.
Sorri, como se não fosse nada. Resolve colocar a calça.
Como se entendesse o meu olhar vazio, trocou,
ao invés de colocar a blusinha que tava no conjunto,
ousou, abusou, hipnotizou e saiu saltitando descalça pela sala,
cheia de coisa cara, como se fossem nada,
com um top preto e um troço chamado arara…
Nem me pede pra explicar, que eu não sei o que se passa.
Na minha cabeça, mil fita ao mesmo tempo. E ela em câmera lenta,
ali, quase parada, sorrindo… ou rindo da minha cara.
A essa altura do campeonato, sei lá. Só quero ir embora logo,
antes que os pais dessa safada cheguem, e me deem uma cesta básica.
Não que eu fosse recusar. – penso.
“Puta que pariu, viado! Cê tá pra baixo…”
Óia lá, de novo, o estalo…
Como se quisesse esticar o chiclete. Pra que?!
Comigo não cola, sua conversa fiada! São só negócios, bebê!
Teu pai tem o que eu quero e eu tenho o que dar a você.
Os contatos são raros,
os combos são caros,
amigos… Imagina, que isso?!
São só conhecidos rasos.
Pra você, ou pra mim, não importa,
eles olham e veem só mais um traficante,
com a menininha irritante,
de vinte poucos anos,
do tipo que não tem nem postura,
e que mora na cobertura.
Não é possível, olha só o nível.
O boné amassado do enquadro,
não nega que estou no lugar errado.
Meus panos mais caros,
ficaram a cara do favelado,
do teu lado.
“Acho que deixei cair brasa no banco do teu carro.”
Saímos do condomínio,
com todos me olhando atravessado…
até o porteiro. Quem diria.
Mais um zé-buceta, assalariado,
comendo marmita fria,
se achando “o abençoado“,
por exercer trabalho escravo,
nesse teu bairro chato.
É, acho que eu podia ter falado…
Que fomos pro baile aquela noite.
Que ficamos chapados, no beco atrás do escadão.
Naquela noite fria, qual único clarão,
era a lua, olhando nós dois, cheia de tesão.
Acho que eu podia ter peitado, mandar se fuder também,
um pouco de sangue nos olhos, às vezes, faz bem.
Mas não, resolvi falar só de você dessa vez.
Da discrepancia vívida entre nossos universos,
dos indescritíveis objetos… eu não falei dos afetos.
E nem podería. Não há. São só negócios, não é mesmo?!
“Continua repetindo isso, até se tornar verdade. Ou não…”
Mais uma vez,
é barulho de algo quebrado,
aqui dentro do meu juízo.
Talvez, seja só esse TABU do caralho.
