Negócios à Parte – 1/7 #SPC

Em meio ao caos cotidiano…
Entre as sombras de altos prédios
dentre tantos (in)pacientes
todos procurando seus próprios remédios
me vejo; me assusto… mas atenho à observar.

Não me leve a mal, aqui são só negócios
Problemas, armas, dinheiro, drogas e precatórios
Não tenho, infelizmente, solução pra sua dor;
Desculpa! Não estudei o suficiente, pra ser doutor.
Mas posso trocar, feliz, o meu dinheiro sujo,
pelos seus títulos ao portador.

— Isso é ouro?! – Aponto a velha aliança riscada,
enfiada ‘num’ naqueles dedos enrugados e quase obsoletos.
Ela sorri.
É sim, seu moço.
– A única coisa que ele deixou além das dívidas.
Ela sorri…
o gosto amargo na minha boca me impele a chorar.
Não vou. Não sinto dó. Isso não me é permitido.
Só queria que ela estivesse mais confortável.

Aqui.
Eu sou outro. Não tenho o luxo de me dar um nome.
Prazer, pode me chamar de ‘moço’.
Não posso, sequer, ser considerado um homem.
Aqui sou IqA – Inteligência ‘quase‘ Artificial
Não penso.
No automático, faço aquilo pelo que sou pago.
Acho que estou no mesmo patamar do carro,
utilitário como o aquecedor, celular ou rádio.

Pelo menos ainda me comunico… me movo…

A máquina de escrever no canto, transpira pó
enquanto o velho computador faz um barulho de foder.
Ta frio. E a fila la fora aumenta a cada minuto.
Essa senhora na minha frente, aqui sentada,
parece estar bem desesperada, e eu?!

— Tá muito frio! – O pensamento repete!

Acho que to mais preocupado em consertar o aquecedor.

O telefone toca. Eu peço um minuto;
enquanto atendo, ela sorri.
Outra promessa que eu não cumpro.
Enquanto rascunho na agenda um horário qualquer
da qual não preciso lembrar agora.
Levou quase dois…
A pessoa do outro lado era prolixa. Famoso “Fala pra caralho“.
…mas acabou. Respiro fundo e continuamos.

Ela assina os papéis que entrego. Sorrindo… Incrível.
A velha mão trêmula e suada que segura a caneta
me teme, mas é grata. Acena em despedida.
A voz de vó, me dizendo que retorna semana que vem,
promete trazer mais, dinheiro e talvez algumas jóias.
Mas se recusa a deixar a aliança. Ela quer lembrar.
Recolecções de memórias, bons momentos e, talvez,
um tanto mais…
do velho filho da puta que a deixou aqui,
presa nesse inferno gelado … comigo!

— Próximoo!

( . . . )

A. Varezza – Contador do SPC
#seteprazerescapitais

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